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033 – Trivium – Problemas da Verdade de Todos e da Mentira de Cada Um – Autoconhecimento e Moral

Autor: Vicente do Prado Tolezano 08-06-2018

Não apenas o TRIVIUM, mas toda pretensão racional sóbria se funda na OBJETIVIDADE da VERDADE.

A paternidade da filosofia plena, aliás, se atribui a Sócrates (469-399 a.C.) justamente por ser defensor, não apenas da OBJETIVIDADE DA VERDADE, mas da própria noção de TRANSCENDÊNCIA, ou seja, do que é além do “capricho humano” inclusive quanto a caprichos coletivos.

A defesa da OBJETIVIDADE da VERDADE soa bastante OFENSIVA à vasta maioria das pessoas, pois ceifa fundo as ILUSÕES DE IDENTIDADE. As quais, quase sempre (i) atribuidoras de poderes de que as pessoas não gozam (presunção), ou (ii) atribuidoras de valor inexistente a poderes que as pessoas possam até ter (vaidade).

Não sem razão, claro, justamente SÓCRATES exortava ao autoconhecimento. Entre várias frases socráticas clássicas, destacamos: “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses” e “o verdadeiro conhecimento vem de dentro”.

Não vem ao caso depurar do ponto de vista meramente histórico se terá SÓCRATES antecipado o pensar de KARL JUNG (1875 – 1961 d.C,) ou se este terá plagiado o ateniense, mas que se parafraseiam não há dúvida.

O famoso psiquiatra suíço foi visceral ao afirmar que: “as pessoas vão fazer qualquer coisa, não importa o quão absurdo, para evitar olharem para suas próprias almas”.

Integram o inventário dos absurdos escapistas, inclusive fazendo jus a posição de destaque, os subterfúgios do RELATIVISMO e do NIHILISMO, que SÓCRATES tanto enfrentou nos seus embates contra os sofistas e que foram ilustrados nos diálogos de PLATÃO (428a.C –348 – a.C.).

O sofista PROTÁGORAS (490 a.C. – 415 a.C.) se notabiliza pelo RELATIVISMO explícito: “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”, “tal como cada coisa se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para você, assim ela é para você”.

Não menos explícito, mas para, a seu turno, jorrar NIHILISMO/NADISMO é o sofista GÓRGIAS (485 a.C. – 380 a.C.): “o ser não é uno, não é múltiplo, nem incriado e nem gerado, por conseguinte o ser é nada”.

Releia e reflita o leitor tantas vezes quanto necessário, a partir dos assertos sofísticos acima, para captar uma relação, por vezes sutil mas que é inafastável, de que o nihilismo é uma forma mais “maturada” (degradada !) do relativismo.

A posição relativista e a fortiori a nihilista não se sustentam minimamente e consistem em ABSURDO que, ao cabo, tem por fim ESCAPAR do autoconhecimento ou da posse de sua alma, como um esforço “consciente”, “inconsciente” ou meramente “leviano” para NÃO SER A SI, coisa que esfria e que, pois, pede o cobertor da mentira.

Que o leitor também logre alcançar que há uma relação sutil, mas umbilical entre o relativismo/nadismo COGNITIVO com o relativismo/nadismo MORAL, sendo aquele um anteparo subterfugioso deste.

É excessivamente simplório conduzir o relativista ao paradoxo, pois se é que a verdade é relativa, não seria absoluto o próprio asserto de que esta frase que afirma o relativismo fosse verdadeira!

Quanto ao nihilista então, a situação não fala por si, mas, em efeito, BERRA por si pela simples perspectiva de que “se o ser é nada” o próprio diálogo com ele não e tal que nem é o caso de que se fala sobre o que não existe, mas que existe o próprio ato de falar que, a seu turno, não existe!

Os sofistas combatidos por SÓCRATES não diferem dos sofistas contemporâneos e todos têm a mesma estrutura geral de escape moral, que, se penetrada até sua medula estrutural, é como indica o quadro abaixo:

“O spagueti é melhor que a lasanha!”, “eu acho que ET existe e você acha que ET não existe”, “eu quero uma viagem no cruzeiro e você quer acampar”, entre milhares de outros assertos de filosofia de botequim são invocadas para (pseudo) lastrear sofismos relativistas e nihilistas e assim se faz, e até com algum sucesso prático, porque tão raso é o nível intelectual das pessoas que há baixo discernimento entre o que seja um “princípio de algo” e “uma FIGURA DE LINGUAGEM baseada num princípio ou anti-princípio”.

Afirmar que “cada um tem sua verdade”, como FIGURA DE LINGUAGEM, para referir a que cada um tem próprias paixões, imaginações, desejos, preferências, valores, etc…, é coisa que é… FIGURA DE LINGUAGEM apenas nessa dimensão é plenamente acatável!

O TRIVIUM é o piso da formação da mente/alma, que pressupõe os TRANSCENDENTAIS da VERDADE (verum), BELEZA (pulchrum) e BONDADE (bonum) e que tem em vista, ao cabo último, balizar o caminho vivencial a eles.

Entre os transcendentais, todos OBJETIVOS, a VERDADE é a espinha dorsal, tal que sem ela tampouco a beleza e bondade emergiriam a ser.

Sem a verdade, ainda, desaparecem as possibilidades de PROGRESSÃO e REALIZAÇÃO humana, que passam por escavação objetiva da nossa alma para a conhecer/receber e, ainda, para ulterior superação (transcendência), também objetiva, desta.

Destas possibilidades que os sofistas ensinam a FUGIR, inculcando uma pseudo liberdade, pois a MAIOR LIBERDADE humana não é “inventar verdades” (belo eufemismo para “inventar MENTIRAS”), mas “abrir-se às verdades”. Esse aspecto será melhor tratado noutros artigos em continuação a este.

O pai primeiro do TRIVIUM, Santo Agostinho (354 d.C – 430 d.C), assentava que “a verdade não é minha, nem sua, para que seja nossa”.

A reprodução do texto é livre, devendo ser citada a fonte e preservada a unidade do pensamento.

Vicente do Prado Tolezano é graduado em direito peça PUC/SP e Mestre em Filosofia pela Faculdade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, com investigação sobre a Metafísica de Aristóteles. É diretor da Casa da Crítica e da Tolezano Advogados.

Tem formações complementares diversas na área da Gestão, Psicanálise, Mediação, Filosofia Clinica, Lógica e Argumentação e outras sobre a Alma Humana.

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