013 0 Amor – Vereda da felicidade

Autor: Vicente do Prado Tolezano 19-06-2017

Já falamos noutro artigo sobre os correlativos da SEDUÇÃO e do DESEJO, mostrando sua feição potencialmente triste e coadunada como um “bem de consumo”. Tudo sob um senso geral ERÓTICO, distinto do AMOR, tema esse oceânico e sobre o qual vamos ousar aqui pincelar.

Mesmo já apartada a acepção ERÓTICA, sobrevivem muitos os sentidos que o termo AMOR evoca. Seguindo a analogia para com termos econômicos, podemos afirmar que é comum a todas as acepções do AMOR, tirante a ERÓTICA, que se cuida de um “bem de capital” e, a rigor, um “bem de capital melhorado”, pois usualmente o bem de capital se presta a dar frutos ao capitalista, ao passo que o AMANTE também busca frutos, mas para o AMADO.

O AMANTE não consome (ou “some com”) o AMADO; ao reverso, atua em prol do AMADO, para o desenvolvimento reto deste, em um ponto em que, o AMANTE aceita se apequenar para que o AMADO se agigante. AMOR é ação do amante para o AMADO e pelo AMADO, ou seja, é BENEVOLÊNCIA. Em qualquer caso de AMOR, pois, esse é absolutamente contrário ao EGO humano, tal que, mais AMOR, menos EGO.

A expressão visível do AMOR é o CUIDADO e tal que, se não há CUIDADO, não há AMOR. Não confundir RESPEITO com CUIDADO, pois ainda que CUIDADO costume envolver RESPEITO, é perfeitamente possível haver até muito RESPEITO, mas não haver AMOR. RESPEITO pode até funcionar para subterfugiar a falta de AMOR, que, a despeito de ser muito comum, é normalmente dissimulado.

Mais oposto ao AMOR não é o ÓDIO, é o FALSO AMOR ou AMOR FINGIDO, e várias outras espécies do gênero CANALHICE. Uma declaração de ÓDIO, se sincera, pode até ter mais estima em prol do odiado que uma declaração de FALSO AMOR, pois, sempre, o fundamento do AMOR se orienta pela REALIDADE, em contraste com a dimensão ERÓTICA que sempre se orienta pela idealização ou mesmo ilusão pura. FALSO AMOR, ademais, pode TRAIR, coisa que o ÓDIO não faz.

Quem AMA, AMA o AMADO como o AMADO exatamente é e não se embaraça em perseguir a constatação das verdades sobre ele, doídas que sejam. Se assim não for, não estarás diante de AMOR, mas de ILUSÃO, de desejos de ilusão, patamar erótico que idealiza o ser supostamente amado e nega todas as evidências que contrariam essa idealidade.

A rigor, os assim pseudoamantes, não amam propriamente o amado, mas amam seus sonhos, o que não deixa de ser uma manifestação de EGO! Quem não conhece multidões assim?

AMOR não precisa de reciprocidade, sempre é unilateral, ainda que, óbvio, AMOR reciprocamente exercido seja uma dádiva. Em quaisquer relações em que a reciprocidade é  condição para a sua subsistência, não se cuida de relação de AMOR, tende a ser uma relação de SOCIEDADE. Conheces leitor, miríades de casais que se fundam em regras muito detalhadas sobre a “comutatividade” dos “AMORES-DEVERES” de cada um? Pactuam regras sobre divisão de dinheiro, o tempo alocado nisto, naquilo, a quantidade de afeto, os tempos privados, etc… Pois é, são, em efeito, só SOCIEDADES mesmo. Pega leitor, ainda uma dica mais: a fixação de regras inicia onde acaba o AMOR, pois onde esse reside, regras ordinariamente são desnecessárias, senão ofensivas mesmo.

O retorno justo que o AMADO pode dar ao AMANTE se chama GRATIDÃO, que, a seu turno, é outra forma de AMOR. É evidente que é assaz maravilhoso gozar de GRATIDÃO de um AMADO, mas ela é RARA e ao AMANTE elevado isso não deve abater, pois, como já visto reciprocidade não é da essência do AMOR. A rigor, o êxtase do AMANTE elevado se dá com o êxito do AMADO, com a frutificação que o AMOR alocado a ele pode lograr.

Ainda que se regozije com a frutificação do AMOR no AMADO, o AMANTE é tanto mais elevado quanto menos pretensão de CONTROLE tem sobre o AMADO. Pois, AMOR não é “negócio seguro”, mas “negócio de risco” mesmo. CONTROLE e CUIDADO podem ser difíceis de serem discernidos entre si várias vezes.

Aliás, tudo no tema do AMOR é difícil mesmo, pois demanda proporções hercúleas de força e muita sabedoria. Por isso é tão comum termos as versões falsificadas de AMOR. Tão primariamente intuitivo é o AMOR como componente essencial da natureza humana que mesmo quem não ama, quase sempre finge que ama. O que equivale a dissimular a perda da sua humanidade. Pode-se perfeitamente, sem vacilo algum, dizer que alguém é tão humano quanto amante e vice-versa.

Na perspectiva social, onde justamente há escassez de humanidade, o AMANTE tem tudo para passar por IDIOTA. Aspecto sobre o  qual DOSTOIÉVSKI se debruçou em seu romance-joia, de mesmo nome, exibindo a trama do príncipe MÍCHKIN, um ser puríssimo, amante destituído de qualquer maldade, mescla de Cristo e Dom Quixote, que era simplesmente inadaptável ao seu meio porque era bondoso e distribuidor de AMOR.

No mais das vezes, o AMANTE resta não apenas não entendido, para ser mesmo nem percebido, tão habituadas que estão as pessoas com o DESAMOR. Por outras vezes, se é entendido, ele se torna uma ameaça, pois desequilibra diversas situações perversas do entorno social, sem embargo de gerar funda inveja/ressentimento aos canalhas ou aos medíocres em geral.

Nunca se perca de vista que, tudo a que todas as pessoas, incluindo canalhas e medíocres,  aspiram é AMAR e serem AMADOS, mas são poucos que conseguem, sejam por auto sabotagem egóica ou qualquer outro problema normalmente próprio. O princípio é que a luz ao amor é disponível sempre a todos, mas poucos abrirão os olhos. Ou seja, AMOR é coisa para certa ELITE de pessoas. Chamo-a de “elite ontológica”.

Nessa altura em que já fica claro que AMAR é praticar corrida de obstáculos, naturalmente vêm à indagação de para que amar?  A resposta é única e cortante de tão simples e óbvia: PARA SER FELIZ.

Em certo sentido, pois, o AMOR guarda um ressaibo egoísta e na extensão do bom sentido que o termo pode ter. Nenhum outro tipo de inebriamento, êxtase ou prazer ombreia com a FELICIDADE decorrente de AMAR. Todos buscam felicidade, alguns na cocaína, uns na avareza ou mesquinharias infinitas, uns no status, no sexo, no reconhecimento, no consumismo, no prestígio, e moltopiù. Compara as “felicidades” deles com a dos poucos que AMAM e tira as conclusões.

Grande mentira que se espalhou aos 4 ventos é que AMOR é sentimento! Obviamente, até há componente sentimental envolvido, mas AMOR é mais predominantemente ATO DE VONTADE, ou seja, de FORÇA-HUMANA e força progressiva.

As pessoas mais fortes são as que AMAM. Pense em qualquer coisa difícil para ti, como acumular 1 milhão de dólares, ser poliglota, ser paciente, etc. Para perseguir essas coisas, tu terás, óbvio, que se superar e enfrentar muitas vezes o abatimento e ímpetos de desistência. Pensa agora sobre as mesmas coisas difíceis e quanto que será ainda mais difícil para que tu faças o teu AMADO as alcançar. Daí segue fácil ver o incremento de tua força se amares. Faça uma observação cuidadosa sobre os FRACOS do teu entorno gregário e veja o que eles efetivamente amam…

Outra grande mentira sobre o AMOR distribuída maciçamente é da inexorabilidade de FATALISMO ou TRAGICIDADE que vão recair ao AMANTE, que sempre, pois, teria fim DESGRAÇADO, como uma “tragédia grega”. Tomado em sentido de “juízo de necessidade”, isso é objetivamente FALSO e vamos abordar com precisão e profundidade a falácia do fatalismo-trágico-desgraçado contra o AMANTE em artigos futuros.

Por ora, cabe apontar em adiantamento que a FALSIDADE da tragicidade reside em que o AMANTE, e somente ele, tem acesso à REDENÇÃO, no sentido próprio do termo.

O reverso é que é verdade. E verdade, em caráter de juízo de necessidade: quem não ama ou muito pouco ama não alcança REDENÇÃO e se implode com o oposto dela, cujo nome é ANGÚSTIA.

A reprodução do texto é livre, devendo ser citada a fonte e preservada a unidade do pensamento.

Vicente do Prado Tolezano é graduado em direito peça PUC/SP e Mestre em Filosofia pela Faculdade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, com investigação sobre a Metafísica de Aristóteles. É diretor da Casa da Crítica e da Tolezano Advogados.

Tem formações complementares diversas na área da Gestão, Psicanálise, Mediação, Filosofia Clinica, Lógica e Argumentação e outras sobre a Alma Humana.

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