035 – Amor, Verdade, (in) tolerância, perdão e fanatismo
Autor: Vicente do Prado Tolezano 30-08-2018
A noção de TÓXICO é de algo que se ADICIONA a nós e no mau sentido de adição, tal como “algo difícil de nos livrarmos” e/ou de algo que “pesa” sobre nós, enfraquecendo-nos.
No léxico de certos idiomas, essa semântica de ADIÇÃO se associa umbilicalmente à noção “prima-irmã” da TOXIDADE, que é a noção de VÍCIO (fraqueza/enfraquecimento), tal como expressam os vocábulos “addiction”, em inglês e francês, e “adicción”, para o espanhol.
A primeira característica, que separa o domínio do VIVO do domínio do NÃO VIVO, é a potência de NUTRIÇÃO à qual a capacidade de movimento se conecta intimamente. Nutrimo-nos para movermo-nos e movemos só porque nutrimo-nos. Se nos nutrimos bem, movemos bem e o inverso é o caso.
O ALIMENTO é o que se permite METABOLIZAR, deixando-nos apenas a sua “força motriz” e com excreção fácil dos seus próprios resíduos. Ou seja, as palavras ALIMENTO e TÓXICO são antônimas entre si.
O menu da vida humana não se satisfaz apenas com os víveres puramente orgânicos. Mas, também se compõe de afetos, imaginação, cognição e bens espirituais, nessa ordem de ascensão de complexidade dos itens “meta-orgânicos”.
É próprio de toda atividade de nutrição que ela é inercial-ininterrupta. Nossas vontades e deliberações apenas a intensificam ou selecionam. Nossa “segunda boca”, mas não menos importante, é nossa pele, porosa, justamente para buscar nutrição, seja alimentar ou tóxica, em um processo que podemos até não perceber. A rigor, todos os sentidos são, de certa forma, “bocas”.
Nos pisos meta-orgânicos, são muitas as “segundas bocas”: o imaginário, os afetos, os exemplos, as confianças, o meio social, cultura e etc. As quais operam sem parar, dragando tanto alimentos quanto tóxicos.
Conhece o leitor gente que come muito, e até quase que exclusivamente, fast food ou mesmo outros gêneros de junk food? Em sentido próprio, essas gentes se intoxicam ao invés de se alimentar, em um processo fácil de começar e difícil de sair, além de efeitos negativos a olhos nus.
Absolutamente o mesmo esquema nutritivo, dragando alimentos e tóxicos, se passa com os itens do menu “meta-orgânico”.
A vasta maioria de nós, e em relação a vasta maioria de nossas relações, se INTOXICA ao invés de se ALIMENTAR. Pelo que seguimos mais pesados, com mais restrições ou empobrecimento energético/de movimentos/aspirações, tal como o gorducho de bigmacs, popcorns, etc…
A minoria de nós, que mais se ALIMENTA do que se INTOXICA dos seus entornos, tenha certeza o leitor, não é “sortuda” de estar casualmente em ambientes pré-dispostos de forma alimentar e com poucos vícios.
O que se passa, com a minoria dos que mais se ALIMENTAM que se intoxicam, é que os indivíduos desta minoria são VIGILANTES ativos das suas nutrições – só e só isso explica, sem outras mágicas mirabolantes a invocar.
Relações mesquinhas, desconfiadas, limitantes, utilitaristas, diversivas, fúteis, aduladoras, frívolas e etc…, NÃO ALIMENTAM. Podem, no limite, matar a fome como um bigmac ou popcorn o faz, mas nos ENFRAQUECEM.
Veja que, não é necessário que uma relação alcance patamares sadomasoquistas explícitos para ser tóxica. Nestes casos, poder-se-ia dizer que são relações venenosas. Em um certo sentido, o veneno é até mais “honesto” que o tóxico, pois é mais evidente.
É óbvio que um bigmac ou popcorn têm efeitos de jantar de gala para quem está há dias sem comer. É o que igualmente se passa com as relações sociais tóxicas, que podem parecer até revestidas de nobreza para quem está CARENTE.
O drama das soluções “meia boca” é que elas têm força para, no curto prazo inclusive, abaixar o padrão do “apetite”, tal que há como se achar que fast food vire “comida” e que relações fúteis sejam “amizade”. Lembre sempre que somos produto do que nos nutrimos. Se comermos muita porcaria, nosso paladar se adequa a ela, pois é humana a capacidade de rebaixamento – trocar alimento por tóxico, é o mesmo que trocar movimento reto por errático.
A vida social, particularmente numa cultura de massa e de CARENTES, predispõe muito o estado de “confusão” entre alimento e tóxico. Qualquer “piscar de olhos” na vigilância, nos implica altas doses de tóxicos, intracutaneamente, senão mesmo intravenosamente.
É tanto muito importante quanto muito difícil trocar de alimentação. O primeiro passo é resistir à onda do INCLUSIVISMO, desmascarando essa falácia tão enraizada, filha direta do SENTIMENTALISMO.
Nossas amizades hão de ser ALIMENTO, próprias para nos fazerem MOVER MAIS e MELHOR. Se não existir esse efeito de METABOLIZAÇÃO, qualquer relação humana é TÓXICA, ainda que tal não seja facilmente evidente, por conta das cortinas grossas do inclusivismo sentimentalista.
A “amizade nutritiva” está longe de ser a “amizade utilitária”. Toda vez que alguém catapulta outrem, é também catapultado, pois SERVE. Todo catapultamento de alguém é um processo de maior capacidade, deste beneficiado, de MELHOR se BASTAR. Alimento é isso, é prover energia e não reter.
O princípio é que alguém se enriquece justamente para ter o que dar (alimentar) a outrem, dar no sentido de ir além e por si. Toda vez que alguém catapulta com faturas impróprias ou castra, estaciona, diverte ou apenas futiliza outrem, é-lhe um PESO, no mínimo um “peso de oportunidade”. Simpatias podem ornar balanças, mas não diminuem os pesos que lhe recaem.
Quando não há o ânimo de dar (alimentar) a outrem, a pessoa não se enriquece, e tende a intoxicar o outro. Isso pode ser muito difícil de ser percebido, mas é exatamente assim que funciona.
Há uma inércia própria da condição material (vegetal e animal), que os físicos chamam de “princípio de conservação da matéria”, cujo paralelo humano é o senso de APEGO, altamente tóxico e intoxicante.
O DESAPEGO é movimento contra material, ato do espírito, pois. Não há nenhum exagero em afirmar que: ALIMENTAR é ato do espírito e INTOXICAR é ato da matéria. Se chamarmos alimentação de amor e a intoxicação de política, as discrepâncias semânticas serão mínimas.
Atenção que o toxicômano e intoxicador, seres predominantemente materiais, ficam zangados quando deixam de intoxicar. No mínimo, sentem-se “traídos” quando o outro vai nutrir-se alhures ou marcha alhures. A reação deles vai desde despeito raso a até muito mais longe que isso.
Todos que buscam ALIMENTO, buscam BASTAR-SE, independer. Todos os que buscam TÓXICO, buscam DEPENDER. Quem busca alimento sempre o acha após densa VIGILÂNCIA. Quem busca tóxico também sempre o acha, bastando ser INERTE.
Se o leitor fizer um inventário SINCERO de todas as suas relações sociais, não deverá ser surpresa constatar que a maior parte delas é tóxica. E isso por mera DESATENÇÃO em não fechar muitas das suas bocas, pelo que fica p.e.s.a.d.o.
A reprodução do texto é livre, devendo ser citada a fonte e preservada a unidade do pensamento.
Vicente do Prado Tolezano é graduado em direito peça PUC/SP e Mestre em Filosofia pela Faculdade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, com investigação sobre a Metafísica de Aristóteles. É diretor da Casa da Crítica e da Tolezano Advogados.
Tem formações complementares diversas na área da Gestão, Psicanálise, Mediação, Filosofia Clinica, Lógica e Argumentação e outras sobre a Alma Humana.
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