007 O importante mesmo é a … Literatura, vitamina da imaginação
Autor: Vicente do Prado Tolezano 18-04-2017
São 4 as potências do discurso humano, segundo inventariou Olavo de Carvalho, e com a menção a que tal tese já estivesse presente em Aristóteles, ainda que de forma não explícita.
São elas: a POÉTICA, a RETÓRICA, a DIALÉTICA e a LÓGICA. Para nós, modernos, podemos perfeitamente chamar a dialética de “pensamento crítico”. Os antigos, a seu turno, chamavam a lógica de “analítica”.
Jamais se perca de vista, na compreensão do aristotelismo, a intuição de ISOMORFIA (ou organicismo) entre as dimensões da realidade. Tal que tudo na realidade física, metafísica, mental, linguística e etc., há de guardar algum grau de “semelhança estrutural”, sem a qual se esvaziariam ao vácuo as condições do conhecimento. Muito próxima da noção aristotélica de ISOMORFIA (ou organicismo) é o atual HOLISMO.
Dessa forma, justo dizer que são 4 as possibilidades amplas de discurso, porque são, respectivamente, 4 as grandes faculdades da mente, a saber imaginação (fantasia, criatividade), vontade (desejo, aspiração), crença (opinião, cogitação, deliberação, hipótese) e intuição (razão lógica), as quais ganham diversos outros nomes, por sinonímia, inclusive sinonímia parcial por acréscimo de algum viés diferencial. Igualmente justo dizer que a divisão em 4 dos gêneros de discursos, ou faculdades mentais, é uma divisão de explicação, mas que todas imbricam-se mutuamente.
Nosso recorte neste artigo se volta à IMAGINAÇÃO, o chão da casa das potências da alma humana, e tal que sem ela ou com a deficiência dela seguem igualmente deficientes as demais potências, tal como paredes fixadas em chão torto ou fofo (na melhor das hipóteses). De menos imaginação, seguem-se menos vontades; de menos vontades, seguem-se menos crenças; de menos crenças, seguem-se menos intuições puras. Assim é o esquema.
Vamos ver um caso bem simplório de potência da imaginação e que passa despercebido na maioria das vezes. Pegue um objeto qualquer em tua mão e pergunta-te qual o “NOME DELE”. Vamos supor que é uma “caneta”.
Ledo engano, caro leitor. Tu não dás nome ao “objeto em si”, mas à “imagem que está em tua mente” (também chamada de fantasma).
Nossa percepção sensorial da realidade é sempre mediada por nosso imaginário e é tão denso isso que o NOME dito das coisas é, em precisão, o nome das nossas representações imaginárias. Ainda que, claro, exista uma relação entre as imagens e a realidade em si, até porque, senão, o edifício da proposta de ISOMORFIA ruiria.
Tu sabes o que fizeste ontem ou o que queres fazer? Claro que sabes, pois tens IMAGINAÇÃO! É a posse da imaginação que nos dá memória e nos permite projeções.
É mais sutil de constatar, pois, que IMAGINAÇÃO não se limita à recepção de “imagens visuais”, mas envolve “imagens de todos os demais sentidos”. Para os limites deste artigo, limitamo-nos ao aspecto mais trivial de imaginação visual.
Quem imagina menos, percebe menos, memoriza menos, projeta menos e interpreta menos. A nossa imaginação é nutrida pela simples experiência de viver, pois os sentidos não param de a alimentar, mas se cuida de uma “nutrição passiva do imaginário”, quase vegetativa e, pois, pouco promissora de tônus forte no futuro. Toda experiência real nossa agrega nosso imaginário (e daí em diante as demais faculdades).
A “nutrição ativa do imaginário” e com alta dose de VITAMINA CONCENTRADA se chama LITERATURA, particularmente a literatura CLÁSSICA, aquela resultante do filtro histórico que já separou o universal do meramente transitório.
Esse sentido do discurso POÉTICO não se limita à poesia propriamente dita mas à recepção sensorial direta ou simbólica e à respectiva elaboração de imagens com articulação/ordenação de linguagem (de poesia, verso, prosa, arte, etc.).
Já assististe a um filme cujo livro inspirador também lera? Qual te proveu maior EXPERIÊNCIA? Seguramente, o livro, pois se vale de SÍMBOLO “não pictório” (os grafemas) e tal que à míngua de uma “imagem dada”, tu CRIASTE as IMAGENS, em uma “VERSÃO” própria, tua, no sentido de uma experiência única tua.
Obviamente que um filme provoca experiências distintas em distintas pessoas, mas te provoca muito MENOS CRIAÇÃO que uma obra literária. Guarda em mente que “criação”, acima de tudo, é “a capacidade de criar imagens”, sempre em versão única de possibilidades de existência.
É o exercício cumulado, cumulado e cumulado de “criação imaginária própria” que te dá os nutrientes e elaboração para o edifício da tua inteligência, altamente entrosado com o desenvolvimento da tua personalidade igualmente própria, ou seja, de tua VERSÃO DO TEU PRÓPRIO SER.
Compara sociedades em que a cultura literária é densa com outras em que é escassa, e tire as conclusões. O Brasil integra o segundo grupo, como deve saber. Tu podes também, e sem riscos de alteração da conclusão, praticar o mesmo exercício comparativo sem considerar “sociedades”, mas sim “indivíduos”.
Ao cabo, vale relembrar Johann Goethe (1749 – 1832), que já disse uma vez que “o declínio da literatura indica o declínio de uma nação”., que
A reprodução do texto é livre, devendo ser citada a fonte e preservada a unidade do pensamento.
Vicente do Prado Tolezano é graduado em direito peça PUC/SP e Mestre em Filosofia pela Faculdade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, com investigação sobre a Metafísica de Aristóteles. É diretor da Casa da Crítica e da Tolezano Advogados.
Tem formações complementares diversas na área da Gestão, Psicanálise, Mediação, Filosofia Clinica, Lógica e Argumentação e outras sobre a Alma Humana.
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