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Inveja, Malevolência, Ódio, Revolta e curas dos afetos ruins

Autor: Vicente do Prado Tolezano 

     INVEJA e MALEVOLÊNCIA são afetos graves de desordem anímica e se prestam de portas de entrada a doenças existenciais malditas como o ÓDIO e a REVOLTA.

     INVEJA é sensação de dor, incômodo ou desprazer por conta do sucesso ou bons logros alheios, ainda que o outro seja efetivamente merecedor desses frutos.

        Ao reverso da inveja, MALEVOLÊNCIA é gozo de prazer pelos infortúnios ou adversidades alheias, ainda que outro sofra por forças injusta.

        Ambas são paixões, tal que podem emergir de forma bruta em qualquer pessoa. Se alguém te afirma que jamais padeceu delas, estás diante de um mentiroso. Não há gente sem o chamado “efeito sombra”, que as místicas tratam como, no mínimo, “tentação demoníaca”.

        Ninguém é responsável moralmente por sensações (emoções) brutas de que padeça, inclusive das más.

      A responsabilidade moral se inicia em não elaborar, mediar ou sintetizar essas sensações, o que caracteriza, no mínimo, leviandade.

        O princípio em atenção é que não se é responsável por padecer de emoções brutas, mas por não agir, que, a rigor, é sempre uma ação decidida de não exercer ação contra si, dando espaço ao sentimento.

        Sentimento, explicamos, é mais que emoção. Grosseiramente falando, é uma “emoção prolongada”, seja por reiteração natural não mediada, por rememoração ou projeções consentidas do próprio sujeito (o chamado “ressentimento”).

        Assim, inveja e de malevolência podem passar de sensações bruta para sentimentos, oportunidade em que têm ao menos um dos pés no ÓDIO e REVOLTA, ainda que o sujeito não perceba nitidamente (mas difusamente sempre foi advertido nalgum nível da consciência).

       Nessa altura, não se trata mais de leviandade, mas de dolo/má-vontade mesmo.

        ÓDIO é vontade ativa de destruir outros por conta do incômodo dos seus sucessos e logros justos, inocentes ou até mesmo meramente imaginários.

        REVOLTA é o caso extremo de ódio, num esquema ativo em que “se volta contra” a existência não meramente de “outros”, mas mesmo ou aos valores existenciais do “ser enquanto ser” (bondade, beleza, verdade, justiça, o Divino, etc …) numa perspectiva ampla. O paradigma da revolta foi Lúcifer.

        Não subestime a potência de avalanche que se inicia com uma pequena bola de neve não interrompida como não subestime a potência destrutiva/monstruosa que, ao cabo, são efeitos de “paixões ruins não elaboradas”.

        A vantagem da avalanche da natureza é que é barulhenta e não é dissimulada, ao passo que as maldades de que aqui tratamos costumam ser muito dissimuladas.

         Se detectas invejosos e malevolentes contra ti, deves se apartar, pouco importando se é teu íntimo, parente ou até cônjuge e sem deixar margem para amizades e nem mesmo inimizade.

        Claro que o invejoso/malevolente pode se superar/curar, evitando que o ÓDIO venha a se consumar, mas é “coisa de néscio” pagar para ver.

        A via mais ingênua e, pois, plenamente ineficaz para educar seus afetos e impedir os aludidos efeitos terríveis do crescimento deles é simplesmente buscar suprimir de si os tais afetos ruins por meio de simples “vontade ou mentalização de suprimi-los”.

        A elaboração afetiva há de ser também em perspectiva ativa, não de uma mera contra-reação, mas por meio de intenso cultivo afetivo oposto, eis que todo afeto tem um oposto.

        O oposto da INVEJA é a ADMIRAÇÃO, que é a alegria pelo sucesso e bons logros alheios. Ficar feliz porque outros estão felizes!

        Quanto à MALEVOLÊNCIA, seu oposto é a INDIGNAÇÃO, que é incomodar-se, compadecer-se, pelo insucesso ou mal de que alguém padece por motivo ou causa injusta.

        Só a nutrição ativa da admiração e indignação faz síntese efetiva contra seus opostos da inveja e malevolência. Repetimos que efeitos de força de vontade em abstrato não existem. Há de trocar/dosar afetos sensíveis com nutrição de afetos opostos em situações concretas.

        Quem quer que queira diminuir sombras de si, há de semear luz. Se invejas alguém, tenta ver nele aspectos que consigas admirar. Se te aprazes o infortúnio de alguém, acha aspectos para se indignar em favor dele.   Se for impossível valorar de algum jeito o invejado/amaldiçoado, inicia o esforço na admiração de outros terceiros e indignação em prol também de outros terceiros.

        Outra atenção, a derradeira deste artigo, é que como a inveja/malevolência e mesmo o ódio/revolta, por vezes, se camuflam bem, o jeito mais eficaz de examinar sua presença é pela ausência de admirações ou indignações por parte alguém e que, claro, sejam razoáveis, não superficiais e nem cínicas.

        Os opostos não razoáveis da inveja e da malevolência (como extremos opostos) são a idolatria e a bajulação, outros vícios. Sair de uma extremidade a outra do pêndulo não é mediação.

       O oposto mediano a ambas as extremidades – chamado de mediania ou virtude – é o que interessa e cura. No caso, são a admiração e indignação. Não se chega a elas “de repente” e nem nelas se mantém docilmente, mas só com muita ação efetiva, sucessiva e ordenada.

SP, 09/07/2020

Um comentário

  1. katia disse:

    Muitas vezes identificamos pessoas invejosas e malevolentes em nossas vidas e por não nos afastarmos acabamos colhendo infortúnios. Bom ouvir que o afastamento é necessário. Obrigada pelo artigo esclarecedor.

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