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041 – (Des)Amor e Timidez

Autor: Vicente do Prado Tolezano 06/11/2018

Revestido de razão estava o psiquiatra carioca Italo Marsili quando asseverou que “só os egoístas são tímidos” e que só se supera a timidez superando o egocentrismo.

As afirmações retro tendem a impactar, pois há um senso intuitivo grosseiro de dar “simpatia” ou comiseração ao tímido, o envergonhado crônico de suas ações, muitas vezes até com uma, também grosseira, associação de que tímidos seriam necessariamente gentis.

É óbvio que este artigo não tem em vista a situação de crianças, seres para os quais a timidez e outras expressões egóicas são recursos naturais, pois têm que viver “entre gigantes” e não têm domínio da polifonia dos seus EUs consciente e aparente. Aliás, mais basal que isto, o próprio discernimento entre autopercepção e auto projeção não é alcançado pelos “miúdos”.

A rigor, toda forma de egoísmo – não apenas a timidez – é inaceitável de adultos, ou seja, daqueles que “deveriam ter maturado”. O fato de que a maioria dos adultos é egoísta (imatura) não faz disso natural, apenas mostra epidemia de doença d`alma.

Ego é um falso centro, produto de uma tensão do par instintivo primário de luta e fuga, como um padrão (comportamento) REATIVO às circunstâncias sociais. A nossa maturação se dá com a mitigação dos instintos para o protagonismo da CONSCIÊNCIA/AMOROSIDADE, que tem índole (atitude) ATIVA perante o resto do mundo, com maior clareza do EU próprio, não das meras aparências egóicas.

Quem, de modo geral, está “lutando” ou “fugindo” evidentemente se põe no centro do mundo, pois é contra o mundo que luta e é dele que foge e aí a “INSANIDADE” da timidez. Na medida em que o tímido tem excessiva vergonha de fazer qualquer coisa, se ocupe bastante com a apreciação alheia, tema com críticas, etc…, ELE PROJETA EM SI UM VALOR QUE NÃO TEM, QUE É O DE SER O “CENTRO DA ATENÇÃO DO MUNDO”.

Dentro de toda casa da TIMIDEZ hospeda-se ORGULHO, mesmo que inconscientemente.

É só o desenvolvimento sucessivo da CONSCIÊNCIA que dissipa egos, sepultando sucessivas miríades de falsos EUs, até que a pessoa se torne de CARÁTER AMOROSO, patamar a partir do qual não apenas a pessoa não se projeta como CENTRO DA ATENÇÃO DO MUNDO, mas mesmo percebe que talvez “nem caiba no mundo”, senão, claro, para servir.

Ao cabo, o amoroso tende a se sublimar e o egoísta – tímido incluído – a se coagular. O tímido é forte candidato a ocupar assento, ao menos, no tipo de caráter PARASITÁRIO, podendo até piorar para o caráter DESTRUIDOR.

Por vezes é muito fácil reconhecer um tímido e, por vezes, é muito difícil o fazer, eis que, como dito, timidez é questão de CARÁTER (o padrão ativo, impulsionado no interior do EU) e não de TEMPERAMENTO.

Nesse sentido, o só fato de alguém ser RETRAÍDO, RESERVADO, DISCRETO, etc…, não tem a ver com TIMIDEZ necessariamente, pois podem cuidar de meros traços temperamentais sem que esse alguém necessariamente esteja numa insana projeção interior de que seu Eu, de alguma forma seja centro de atenções, além do que razoavelmente seja (superlativamente muito pouco!).

O próprio oposto, como um EXIBICIONISMO, pode se dar em decorrência de um caráter tímido, vazado pela vertente da “luta” ou invés da “fuga”, mais frequente. Na “luta”, o tímido parece que não é tímido, mas, sai destruído ao cabo dela.

A terapia ao tímido – e como não poderia ser diferente – é a mesma aos demais Egoístas: POR O OUTRO NO CENTRO DAS ATENÇÕES, ou seja, AMAR. Tudo sinônimo de “sair de si”, como “sair do falso eu”.

Pensa em um exemplo vivaz, de como um tímido se comporta ao palestrar perante muitas pessoas. Imagina-o olhando para si, com reflexo de como as pessoas lhe vão ver, com um espelho, uma tela e o processo coagulante que lhe vai passar. Imagina-o, agora, sem nenhum recurso de reflexo de imagem e sim se esforçando em ver o auditório, em entender às pessoas que o assistem e se orientar a RESOLVER O PROBLEMA DELAS. Parece claro que a coagulação será trocada por sublimação.

Ó tímido, ponha-te/empreenda, muitas vezes em prol e/ou cuidados alheios, que, passo a passo, assumes outro caráter, vencendo o tipos de caráter de ACOMODAÇÃO egóica, de fraqueza, até um ponto em que fique sem até “lembrar” da questão de se tens algum centro no mundo, além, claro, do mui minimamente razoável. Sem meias palavras: teu problema é que és egoísta-orgulhoso.

Amor é sempre decisão/iniciativa de produção, categoria de ação, jamais de paixão. Para adultos, padrão de ego é sempre falta de decisão. Uma característica da decisão/iniciativa é que, a cada uma decisão/iniciativa tomada, a subsequente será mais fácil – o caráter progressivo do ser.

É evidente que é devido ACOLHER/ACEITAR a pessoa do tímido, MAS não é devido – e tal também vale às demais expressões egóicas – APROVAR a timidez de adultos de idade.

A reprodução do texto é livre, devendo ser citada a fonte e preservada a unidade do pensamento.

Vicente do Prado Tolezano é graduado em direito peça PUC/SP e Mestre em Filosofia pela Faculdade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, com investigação sobre a Metafísica de Aristóteles. É diretor da Casa da Crítica e da Tolezano Advogados.

Tem formações complementares diversas na área da Gestão, Psicanálise, Mediação, Filosofia Clinica, Lógica e Argumentação e outras sobre a Alma Humana.

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