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Autor: Vicente do Prado Tolezano
15-01-2019

Poucas falácias devem ser tão nocivas quanto a que afirma que “EDUCAÇÃO É UM DIREITO”, a qual arrisco que até sequer cuide de falácia e seja, mais precisamente, um SOFISMA.

Não é sem razão que os “tempos líquidos” coincidam justamente com a “era dos direitos”. Muito rigorosamente, a própria COSMOVISÃO que vivemos centrada nos “direitos multidimensionais e erga omnes”, a que eu chamo aqui de “DIREITOMANIA” é falaciosa-sofismática.

A “direitomania” é pacto tácito social de ESCAPISTAS EXISTENCIAIS que, através de insinceras confirmações recíprocas, buscam álibi para o seu atrofiamento produtivo. Afinal, arrogar-se excessivos DIREITOS é o mesmo que se dizer CREDOR num esquema em que passa-se a ter menos DEVERES (dívidas) próprios, inclusive “deveres para consigo”, que o mais acurado no particular da educação.

É irreparável a frase de Jung (1875-1961) de que: “as pessoas vão fazer qualquer coisa, não importa o quão absurdo, para evitar olharem para suas próprias almas“. Farão inclusive, diremos nós, o absurdo-mor de dizer que EDUCAÇÃO É DIREITO!

Educação é exatamente o oposto de direito; é um DEVER e é, ainda, “dever de índole natural”, ou seja, que subsiste perene e independentemente de qualquer regra jurídica. Para saber que EDUCAR-SE é DEVER individual inafastável basta olhar sinceramente para si. Afinal, educação é um corredor do amor, tal que todas as lógicas deste se aplicam à ela.

Pretextar ou subterfugiar a educação como DIREITO e não dever é esquema clássico do desamoroso que precisa culpar outrem por sua desamorosidade, ainda que seja um “culpado indeterminado”. Mais ainda, é próprio da natureza dos direitos quaisquer que eles sejam “renunciáveis”. Aquilo a que não se renuncia por bel-prazer, tem o nome de DEVER.

O ARDIL de predicar a educação como DIREITO, mesmo numa bravata juvenil, se não fosse em contexto de ironia, tinha que ser vexatório e se não o é tal indica só dessensibilização em grau extremo, pois, em nível muito rigoroso estar-se-á a tratar egoísmo como amor.

É óbvio que tudo o que é um DEVER é também um direito, numa conjunção de DEVER-DIREITO. É uma tautologia, mas urge dizer que há de haver o “DIREITO DE CUMPRIR DEVERES”, o que é muito distinto do estatuto de EDUCAÇÃO com natureza de DIREITO em si, sem fundamento direto na consecução transcendente do dever (abuso de direito).

As pessoas que cumprem deveres por sua consciência natural própria de os cumprir têm nome de VIRTUOSAS. No campo da educação, elas são os que podem alcançar o patamar dos AUTODIDATAS[1].

É muito comum que os AUTODIDATAS, por sua vez, tenham uma estrutura de CULPA sobre seus ombros, pois eles, ainda que sejam os mais sábios e mais exigentes para consigo, tendem a achar que “estudaram pouco ou menos do que podiam”.

Normalmente os autodidatas não têm tempo para ir às passeatas dos DIREITOMANÍACOS em prol dos “direitos da educação” pois estão estudando.

Essa estrutura de CULPA é própria das pessoas de caráter amoroso (produtivo) de um modo geral. Não sem motivo até íntimo, pois, as virtudes são a via áurea aos patamares amorosos.

Aos que não cumprem seus deveres ou aos que só os cumprem à fórceps, seja por medo de sanção/punição ou por interesses/recompensa imediatista (financeira ou de reconhecimento), o predicado apropriado é de VICIADOS.

Eles, os viciados, podem eventualmente alcançar níveis até bastante razoáveis de “instrução” (não de educação), mas com muita alimentação exterior, a qual, se cessada, implica o decaimento do VICIADO.

Eles são o oposto dos AUTODIDATAS, já que a luz própria chamada VONTADE de educar-se/olhar para si eles não têm e todas suas métricas lhes são externas.

Fica evidente que o VICIADO não tem a estrutura psíquica de culpa do autodidata, frequentemente trocada, por sua vez, pelo seu oposto que é a estrutura do RESSENTIMENTO (que pode ou não envolver vitimismo), tal que o ressentido sempre acha que “recebera menos do que teria justo direito de ter recebido”.

Os viciados talvez não tenham tempo para estudar porque precisam ir às passeatas dos DIREITOMANÍACOS em prol dos “direitos da educação”.

O ressentimento/vitimismo é sempre maré contrária ao fluxo do amor. Ele costuma banhar os campos do egoísmo. Viciados são altamente egoístas por mais que se esforcem em mostrar o contrário.

Ninguém e absolutamente ninguém deve ter o “direito de ser egoísta”. O sofisma que afirma que educação é direito perverte esse primado e se presta a fazer viger, muitas vezes, o “direito de ser egoísta”.

É evidente que é simplismo maniqueísta dividir as gentes em pessoas de caráter virtuoso puro ou de caráter viciado puro, e bem como que jogar todos os louros sobre os primeiros e todas as pedras sobre os segundos também é impróprio.

Contudo, largadas pretensões de absolutismo, LER O CARÁTER das pessoas, mesmo que seja coisa sempre precária nas situações práticas, é o que separa os ingênuos dos inocentes.

Ao caráter amoroso, arrume-lhe o céu. Ao caráter viciado, de duas uma: purgatório de tolerâncias com expectativa de transformação ou o inferno direto nos casos em que a purga não vingue. Isso se aplica a tudo na vida e não seria diferente na educação.

Crianças de tenra infância têm intuição dos tipos de caráter e também podem receber uma ajudinha nesse sentido desde que se lhes saiba contar na linguagem delas.

Conta-lhes dos 3 porquinhos da fábula e que todos eles sabiam do perigo do lobo, mas que, mesmo assim, cada porquinho fez uma casa diferente. Cícero, que tinha muita pressa em brincar, fez casa de palha, o Heitor, que tinha pressa moderada em brincar,fez a casa de madeira e outro, o Prático, que deixou para brincar depois,subiu a casa em alvenaria e foi o que mais brincou e não prejudicou ninguém.

Não preciso aqui contar a estória toda, mas, acredite, crianças entendem-na perfeitamente.

Cíceros devem ser “esquecidos”, Heitores “tolerados/purgados” até alguns limites e a Práticos deve-se dar todo apoio, pois eles, afinal, têm o “legítimo direito de cumprir o seu dever”.

É dito que metade da população universitária brasileira é analfabeta funcional (arrisco que seja até mais) e essa situação decorre necessariamente porque os alunos universitários envolvidos são Cíceros com alguns Heitores. O lobo vai lhes chegar e eles vão, no mínimo “encher saco alheio”. São egoístas puros maquiados de politicamente corretos.

Dar exemplos de aceitação do inaceitável quanto à educação no Brasil por conta de um sofisma de que “educação é direito” é atividade que tende à infinitude…

O Grupo de Escolas Critique, que congrega escolas particulares de alta elite econômica, lançou recentemente uma carta aberta que fora dirigida ao Ministro da Educação[2]. Neste artigo, destacamos 2 assertos da dita missiva, provas da filiação deste grupo à COSMOVISÃO sofismática que estamos aqui a combater:

“… o problema de nossas escolas não são ideologias de esquerda em sala de aula,

mas a incapacidade do sistema de conseguir que os alunos aprendam

“asseguramos que o que existe, de fato, é a dificuldade de aprender dos alunos”.

É muito interessante extrair exemplo deste grupo de escolas de elite justamente porque elide a vinculação da questão aqui tratada aaspecto de carência financeira. O problema central do “caráter” do estudante que brada por direito ou que é ávido pelo seu dever não se altera, no universo dos pobres ou no universo dos ricos.

Veja que “a dificuldade de aprender dos alunos” está contrastada com a “incapacidade do sistema de conseguir que os alunos aprendam”!!! Haja OBTUSIDADE, pedimos vênia para exclamar!!!

Alunos brasileiros têm a estrutura neuronal que alunos de qualquer lugar do mundo. Pessoas, nesse sentido, são iguais em qualquer lugar do mundo. Suas diferenças centrais são “diferenças morais”. Para que não fiquem meias palavras: somos um país PERVERSO.

A eleição da fábula dos 3 Porquinhos para ilustrar este artigo se deu porque por ela até criancinhas entendem que o problema do Cícero era de índole moral e não de índole cognitivista. A compreensão disso é ACACIANA!

A missiva em comento das escolas de elite dá eco direto ao cinismo egoísta de quem não tem vontade de estudar para ficar perscrutando como problema, inclusive de política pública, de método de ensino que superassee isso, como que querendo prover atendimento de um “direito”, absolutamente irrealizável conquanto o interessado “não queira cumprir seu dever”!

É uma obviedade que não existe nenhum sistema capaz de ensinar quem não queira aprender! Outra obviedade é que mesmo, claro que guardadas muitas proporções, crianças/adolescentes têm traços de caráter e podem bem ser cíceros-egoístas-viciadas-mirins.

Deixar pessoas sequestradas em sala de aula sem que elas estejam com vontade ativa de estar ali, que não se concentrem, que não façam exercícios, não redijam textos, não articulem perguntas com interesse, etc …não adianta. Equivale a deixar alguém dentro de uma academia de ginástica e querer que sem levantar peso, sem correr na esteira, sem fazer abdominal, sem fazer flexão, etc …, ela vá ficar forte. E tal não é um “problema de sistema da academia”!

Entre tantas misérias, este país tem medo de dizer aos viciados que eles são viciados. Pelo sofisma de que “educação é direito”, egoístas obtusos de todo gênero, com alicerce de “casas de palha” são tolerados até universidade, num esquema manifestamente destrutivo deles próprios e de terceiros.

Aristóteles (384 – 322 a.C.) dizia, com todo acerto, que o sábio sobe de nível quando, mais que saber algo, ele sabe ensinar esse algo a outrem. Mas que sobe muito mais de nível quando ele sabe DISCERNIR a quais pessoas deve ensinar. Ele seguia, aliás, a tradição da Paideia que lhe antecedia em séculos e pela qual se preconizava que “antes de exibir valor moral, não se deve intelectualizar ninguém”.

Na tradição dos medievais ligados ao TRIVIUM, seria risível o senso de “educação como direito do indivíduo”. O mestre (preceptor) tinha o dever de acolher discípulos que “tivessem a iniciativa própria de buscar o mestre para aprender e se sujeitasse às transformações/comprometimentos decorrentes”!

Os gregos e os medievais, sem 1% da estrutura tecnológica de que se dispõe hoje, não tiveram o problema de “método de ensino que não funciona”. Quem estudava aprendia. Simples assim quando se lê o caráter das pessoas.

À maioria dos pedagogos brasileiros é difícil ler Aristóteles e clássicos medievais, mas que, puxa, leiam,ao menos, a fábula dos 3 Porquinhos. Com ela, já dá para desmontar o sofisma de que EDUCAÇÃO É DIREITO.

[1]No critério do saudoso professor PierluiguiPiazzi, escolas só deveriam ser boas se, por sua vez, despertassem o autodidatismo.

[2]http://escolascritique.com.br/2019/01/02/carta-ao-ministro-da-educacao-sobre-a-educacao-das-criancas-e-jovens-brasileiros/


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3 comentários

  1. Carlos disse:

    O texto deixou a desejar.

  2. Miriam Prando disse:

    Muito bom!

  3. Tamara disse:

    Maravilhoso texto! Obrigada por compartilhar conhecimento.

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