fbpx

Autor: Vicente do Prado Tolezano
04-05-2016

Ao contrário do que possa parecer, muitas vezes o bom professor não precisa estar PRESENTE para se fazer PRESENTE. Se é que não seja mesmo indispensável que ele esteja AUSENTE para se fazer PRESENTE.

Queremos aqui tratar da PRESENÇA REMOTA, aquela que não se opera pela matéria, mas pela “presença do que interessa”, que é a presença pela ALMA.

Quando contemplamos um objeto artístico o que, absolutamente, menos contemplamos é o objeto em si. Também, secundariamente nessa experiência hão de serem os versos que se podem articular a partir do objeto artístico. Acima de tudo, o creme de que podemos gozar disso tudo é um contato com a ALMA DO AUTOR, com uma VIDA VIVIDA na mesma realidade, independentemente de tempo, espaço ou cultura do Autor.

É óbvio que o contato com os objetos concretos e específicos da realidade de nosso entorno, inclusive social, aumentam nossa sensibilidade,  nosso entendimento das coisas e também a compreensão da nossa própria vida. Mas, esse aumento sempre passa de linear a exponencial quando o objeto do encontro é outra ALMA, que VIVE ou VIVEU, intuiu, assimilou, e maturou experiências.

É muito diferente ter contato com OBJETOS do mundo e ter contato com outros SUJEITOS do mundo. Pensa muito sobre este particular e da tensão sujeito – objeto que todos nós sofremos.

O termo sujeito vem de “estar sujeito a…”, como estar sujeito à realidade, ou seja, de VIVER a realidade, sendo por ela afetado e afetando-a. Objeto, a seu turno, é o que objeta, impacta e, portanto, como num sentido resiste, num sentido aceita ser empurrado, levado, pois tem baixa mediação/assimilação/síntese.

Uma das maiores maldições de que padecemos é a perda do senso de primazia da VIVÊNCIA, sobre qualquer outra forma de conhecimento. Não se cuida de qualquer apologia a subjetivismos relativistas, pois, a rigor, o mais absoluto que pode haver é VIVER e, justamente “viver na realidade” objetiva, espiritualmente objetiva.

Independentemente de qualquer tradição religiosa, o acerto pela nossa SUBSTANCIALIDADE ESPIRITUAL é tema da razão e não de fé no sentido “religioso – tradicional – social” da palavra. As próprias expressões: “presença de espírito” ou “espírito forte” são usadas automaticamente por nós quando nos deparamos com pessoas que são mais SUJEITOS que OBJETOS.

É perfeitamente possível estar com alguém e saber que ele está AUSENTE dali, senão pelos rastros do corpo, tal como há, em efeito, um OBJETO, mas não um SUJEITO.

É próprio da dimensão espiritual não obedecer aos limites espaço-temporais, não no sentido negativo, de não estar em nenhum lugar nem tempo, mas no sentido positivo, de estar sempre nos lugares e tempos diversos. Fora disso, não existiria UNIVERSALIDADE e nem seria, pois, compreensível intuir obras de Autores de milênios atrás.

Queremos aqui arriscar a tese de que, a própria ausência do CORPO de um professor tende mais a lhe auxiliar na educação que lhe ofuscar.

As almas de Aristóteles, Confúcio, Santo Agostinho, Michelangelo, entre outros clássicos, chegam-nos pelos seus textos ou objetos e estão, de longe, a se confundir com eles. Infundem em nós maravilhamento existencial e diálogos de nossa parte para com elas, mesmo que mortas estejam, a tal ponto que nós perguntamos muito às almas deles e chegamos mesmo a responder por elas as nossas próprias perguntas.

Não confundir “maravilhamento” com “mera curiosidade” ou “excitação”, pois essas se voltam a OBJETOS, ao passo que o que é MARAVILHOSO é a VIDA, vida bem vivida. Vida gera vida e só vida gera e impulsiona vida.

O professor perene sempre tem muito mais a prover, não só pelo conhecimento que logrou, mas porque logrou deixar a ALMA presente, mesmo na ausência do CORPO. Em contraste, veja como o professor temporal (normalmente mais morto que o perene) ser, ao limite, um acidente e o professor perene a substância.

A quem não for clara a última passagem, que aproveite para se debruçar sobre o primeiro meio de tonificação da inteligência proposto pelo professor perene Aristóteles, que é justamente dividir o SER substancial do SER acidental.

Depois de entender a divisão de SUBSTÂNCIA e ACIDENTE, passe a VIVER com esse conhecimento assimilado e te ocupa mais na tua substancialidade de SUJEITO VIVENTE e menos com a tua dimensão de OBJETO (sujeita aos âmbitos espaço-temporais). Esse processo é longo, provavelmente sem fim, e o corrimão da escada é justamente beber sem moderação dos professores perenes ou clássicos, como queira chamar.

Totalmente coberto de razão estava Olavo de Carvalho quando afirmou com todas as letras que, para conhecer a atualidade do Ocidente e da nossa vida, temos que ler PLATÃO e ARISTÓTELES como livros, e assumir todas as demais leituras como notas de rodapé a esses livros.

Sobre os professores do tempo e espaço, do nosso tempo e espaço, serão úteis, só e só, se te ajudarem na mira dos clássicos. Senão, serão somente DESPERDÍCIO DE TEMPO, e isso na mais branda das hipóteses. Sem vacilos de haver erro nesse ponto!


Você quer se manter informado com as novidades da Casa da Crítica e receber nossa newsletter?

Cadastre-se agora e fique sempre atualizado!!!


Todos direitos são reservados e protegidos para Casa da Crítica, sendo permitida a reprodução dos conteúdos desde que seja citada a autoria e mantida a integralidade dos textos.

Um comentário

  1. Suzy disse:

    Interessante. O saudoso Enéas Carneiro dizia que clássico é aquilo que é eterno. Infelizmente hoje há muita publicação ou obra artística que nada diz, nada acrescenta…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.