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Autor: Vicente do Prado Tolezano
31-08-2017

A capacidade de alguém para AMAR tem relação absolutamente direta com a assunção que esta pessoa faz de sua IDENTIDADE (ao menos de sua auto-imagem) – tal como uma relação que se passa entre semente e fruto: sem semente, sem fruto ou de semente ruim, segue fruto ruim.

AMA mais e/ou melhor, quem busca efetivamente se conhecer. E não AMA, ou ama menos e pior, quem de SI se evade, pois ficará limitado às dimensões defensivo-reativas e ilusórias do seu EGO e de onde, justamente, vem a expressão do oposto ao AMOR, o EGOÍSMO ou, noutras palavras, o EGOCENTRISMO.

O sentido de AMOR de que estamos a tratar é o mais geral possível e aplicável a quaisquer formas de AMOR, que consiste na DECISÃO GRATUITA DE FORTALECER O OUTRO. Vide nesse sentido que:

(1) É “decisão” porque transcende a semântica de um mero sentimento, o qual jamais sustenta amor.

(2) É “gratuita” porque não é obrigação forçada contra o amante e deve gerar-lhe felicidade por si.

(3) É com vistas a “fortalecer” para significar que o amante cuida, faz o bem, aprimora, corrige, orienta, etc…, o amado e não se confunde com mero dar prazer ao amado, o que poderia ser até enfraquecedor.

(4) É ao “outro” porque sempre é para fora, seja o outro um alguém em concreto, em gênero, uma causa, instituição, a totalidade, etc…

Obviamente, quando se arguiu que o AMOR é dirigido ao outro, tal se refere a um sentido imediato, pois em sentido mediato, pelo próprio ato de amar, o amante também se fortalece. Aliás, amar é o único, senão mais forte meio tonificante de que dispomos para nós mesmo na medida exata em que é, no plano ontológico, por essa ação que se encontra nossa essência e se dissipam falsas essências egóicas. A seu turno, no plano dos sentimentos, é por ela que se combate o pior sentimento que é o de MEDO.

Todos nós temos impulso natural interno para o AMOR em nossa essência, conforme já defendem tradições religiosas, filósofos e teólogos há milênios. Modernamente, o AMOR já é defendido inclusive como função de cunho até biológico e para todos os vivos, não apenas humanos. Quem se interessar por esta vereda que debruce sobre o trabalho do chileno HUMBERTO MATURANA com a segurança de que vai colher materiais bons.

Apesar de natural, é fato que AMOR, no sentido próprio, é coisa muito rara, e o EGOÍSMO prevalece com vantagens enormes sobre o AMOR. O foco deste artigo, já adiantado na partida, é apontar que AMOR é raro porque é igualmente rara a existência de indivíduos, gente com assunção da IDENTIDADE própria.

Aí reside a ligação indissociável entre AMOR e VERDADE. O peso do AMOR e o peso da VERDADE são iguais. O primeiro se pseudo alivia com o EGO e o segundo se pseudo alivia com a MENTIRA. Por comutatividade lógica óbvia também EGO e MENTIRA ligam-se indissociavelmente. Obviamente, estamos falando da VERDADE sobre SI, a primeira pedra do edifício da personalidade.

Tanto quanto temos impulso natural ao AMOR, todos temos uma estrutura de EGO, o qual, em si mesmo, não é mal e é até necessário para viabilizar a vida social. A patologia está no seu excesso, na sua não dissipação ao longo do processo de maturação da vida ou no não discernimento da distinção entre o EGO e o EU, seja o EU DE ALMA ou, por outro nome, a CONSCIÊNCIA.

O EGO é uma projeção externa da nossa alma, criadora de um personagem mais ou menos fiel à alma subjacente, personagem que vai mediar sua existência social, seja em uma política grande ou mesmo intrafamiliar.

Os padrões gerais do EGO já se desenvolvem na infância nas relações para com genitores, irmãos, etc… Desde o despejo forçado do mundo intrauterino, a criança ainda está cheia de MEDO, não sabe discernir as suas dimensões existenciais, nem mesmo entre imaginação e sentimento da realidade, e busca posse/proteção/acúmulo, etc…, através da constituição do EGO.

O EGO, pois, sempre terá ressaibo defensivo-reativo-acumulativo, pois é nascido do MEDO para com as relações sociais. Tenha-se em mente que as próprias relações sociais das quais o EGO se defende são também muito mais “projeções” de relações sociais do que realidade, tal como um personagem já decide qual seu figurino para uma situação projetada e partir de projeções e atuações de outros personagens. MEDO é como uma bola de neve…

O apego ou não dissipação do EGO a patamares saudáveis implica ou na confusão ou também sobre nossa IDENTIDADE, que pode passar a ser justamente a maior fonte de MEDO, pois a revelação traz a conta da miséria egóica que já terá fixado todos os contornos de hábito. “Quem sou eu?”, pois, é uma pergunta amedrontadora e de cuja fuga tanta, tanta e tanta hipocrisia, cinismo e outros subterfúgios nascem.

Que o leitor consiga ver a ligação entre o MEDO e o NÃO AMOR, EGOÍSMO, INCAPACIDADE e amar, nos parece óbvio a esta altura. Posto o EGO como nosso falso centro e alma ou consciência, nossas essências (onde há o amor), vale ver que o dilema clássico que Shakespeare trouxe na boca de Hammlet de “ser ou não ser” é mera paráfrase da questão de “me conheço ou não”, “dissipo meu ego-personagem ou não” ou, ainda “amo ou não amo”. São todas a mesma coisa.

Fazer face a SI em essência ou ao AMOR é viagem sem retorno, do ponto de vista da consciência, e o egoísta sabe muito bem disso, ainda que dissimule mesmo com a mais óbvia ineficácia de disfarces que são apenas “mais do mesmo medo de ser/amar/se conhecer”.

Trazemos in literis o asserto da italiana Sandra Salmaso, didata de Biodanza, expert de renome mundial em biodanza e afetividade, segundo a qual, com muita correção: “as pessoas que têm uma identidade débil, são incapazes de amar; têm medo da diversidade, seus vínculos com as outras pessoas são defensivos”.

Temos a mais sólida convicção de que o entorno social do leitor está repleto de pessoas com incapacidade de amar, só cheias de espírito egoístico defensivo acumulador e de dissimulação pirotécnica, por mais paradoxal que possa ser dissimular sobre fogos de artifício de sua miséria.

Os gregos clássicos já dominavam a questão da relação IDENTIDADE – AMOR e já cunharam 4 interessantes mitos sobre o particular, mostrando inclusive a perversidade que uma pessoa, sem assunção de IDENTIDADE, provoca. Quem não se busca conhecer/não ama, em um grau ou outro sempre é egoísta: não há “posição neutra” entre AMOR e EGOÍSMO.

O mito que traz uma boa assunção da identidade e, pois, revela uma da afetividade AMOROSA é o MITO DE HÉRCULES. Como mitos sobre assunção defeituosa/patológica de IDENTIDADE e com a consequente afetividade EGOÍSTICA/PERVERSA são os MITOS DA ESFINGE, DA MEDUSA e DE NARCISO. Ficam para os próximos artigos.


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Um comentário

  1. Suzy disse:

    Puxa professor quando o negócio começa a chamar , mais e mais sua atenção…” Be continues…

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