fbpx

Autor: Vicente do Prado Tolezano
09-05-2018

Um princípio antigo e medieval indicava uma OBVIEDADE que, atualmente, por conta do império materialista, não se percebe: o princípio de que “O AGIR SEGUE O SER” (“agere sequitur esse”).

O que o princípio quer dizer é, parafraseando-o, que “as nossas ações decorrem do nosso ser e não que o nosso ser seja um somatório ou produto de nossas ações”, tal como muitas correntes psicológicas modernas pregam, sob bandeira chamada de behaviorismo.

A perspectiva behaviorista já é, em si, decorrência materialista (e positivista), pois se limita à observação fenomênica das ações, logo dentro dos limites dos COMPORTAMENTOS, e não se vale de introspecção subjacente deles.

Ou seja, o behaviorismo não se rende à noção de que, sob rigor, nosso ser é nossa ALMA e, a fortiori, de que a co-constituição, aliás, dessa ALMA/SER, se dá pela dimensão da VONTADE INDIVIDUAL (paralelo da ATITUDE), sendo que a essa co-constituição volitiva, tomada na perspectiva temporal-sucessiva-progressiva, se dá o nome de constituição de CARÁTER.

Até porque, o foco do behaviorismo é fenomênico e com observação de esquemas de estímulo e reação do aqui-agora Também se dá, em consonância com viés moderno em geral, SOBRE-ATENÇÃO à dimensão do homem-como-filho-do-meio (perspectiva horizontal), em detrimento da concepção clássica de que o ser do homem é o “ser do homem APESAR do meio” (perspectiva vertical).

Estamos a advogar, expressamente, que o repertório clássico é, obviamente em termos bastantes gerais, mais robusto para apoiar a SANIDADE humana do que o repertório behaviorista.

Constatar comportamentos, e até mesmo os modular (ao que se dão os nomes de NEGOCIAÇÃO e MEDIAÇÃO), é tão paliativo para a SANIDADE quanto o ato de enxugar barras de gelo. Ser SÃO ou gozar da SANIDADE/NORMALIDADE, definimos, é TOMAR ATITUDE SÃS, cuja campeã entre ela é a atitude de AMAR.

Afirmamos expressamente que o SÃO/NORMAL é quem AMA, e tão somente ele. Quem não AMA tem o nome, nos casos básicos, de EGOÍSTA e não é SÃO/NORMAL.

Voltando ao princípio de que partimos e que defendemos – agere sequitur esse – não é razoável esperar que alguém, “de repente”, AME AQUI E AGORA simplesmente, por absoluta impossibilidade ontológica e porque os estímulos do meio são justamente egoístas.

A pessoa que AMA só AMA porque já É AMOROSA, ou seja, o seu agir amoroso segue o seu ser amoroso. Esse Ser há de ser constituído num esforço sucessivo-progressivo e, exclusivamente, pelo próprio amoroso. Querer que alguém AME, sem ter previamente feito esforço (e muito), é simplesmente IGNORAR a ação de AMAR, corromper sua gramática e o tratar como um verbo transitivo, ao passo que é verbo de LIGAÇÃO, com concessão máxima para que seja verbo INTRANSITIVO.

É ingênuo e superficial achar que AMOR tem objeto, como pedem os verbos transitivos de um modo geral. A ação de AMAR se inicia no sujeito e vai dele para consigo ou para o ALTO, não ao horizonte. Ao cabo, o que AMOR tem no horizonte é só BENEFICIÁRIO, mas como uma figura a que a gramática não dá cabo propriamente.

O que tem OBJETO são os verbos INTERESSAR, ASSOCIAR, USAR e etc. Coisas próprias do nível horizontal-social e em que o esquema de estímulo e reação é vivaz.

Mas, e daí? A questão que resta é: como se formam, pois, os amorosos segundo o princípio clássico?

A resposta única, válida para todas as modalidades de amor, é que o amoroso deve constituir/fazer seu caráter, com atitude de ordenação de afetos, de nutrição do seu imaginário para a conduta amorosa, aumento sucessivo da força de vontade, de confiança, etc., e sempre numa relação consigo mesmo, prévia ao eventual estímulo em concreto (BENEFICIÁRIO).

Vamos trazer um exemplo relacionado à modalidade de amor-de-par, de casamento, tirado da poesia sempre brilhante de CORA CORALINA, que elucida bem clara a PREPARAÇÃO PRÉVIA das mulheres de seu tempo, época em que os casamentos vingavam.

Mutatis mutandis, o esquema de TONIFICAÇÃO DA VONTADE – sinônimo de FAZER-SE – se aplica, obviamente, a homens e a todas as demais modalidades de amor como condição sine qua non destas.

“Moça para casar não precisa namorar, o que for seu virá”.
Ai, meu Deus! e como custava chegar…
Virá! Virá!… Virá, virá… quando?
E o tempo passando e o moinho dos anos moendo,
e a roda-da-vida rodando… Virá-virá!
A gente ali, na estaca, amarrada, consumida
de Maria Borralheira, sem madrinha-fada,
sem sapatinho perdido,
sem arauto de príncipe-rei, a procurar
pelos reinos da cidade de Goiás
o pezinho faceiro do sapatinho de cristal,
caído na correria da volta.

A igreja, refúgio e confessionário antigo.
O frade, velho e cansado. Frei Germano, piedoso,
exortando paciente e severo. “Minha filha, a virgindade
é um estado agradável aos olhos de Deus. Olha as santas virgens,
Santa Terezinha de Jesus, Santa Clara, Santa Cecília,
Santa Maria Mãe de Jesus. Deus dá uma proteção especial às virgens.
Reza três ave-marias e uma salve rainha a Nossa Senhora e vai comungar”.

A gente saía confortada, ouvia a missa,
cumpria a penitência e comungava humildemente, ajoelhada,
véu na cabeça em modéstia reforçada.

Depois, depois, a solidão de solteira, o sonho honesto de um noivo,
o desejo de filhos,
presença de homem, casa da gente mesma, dona ser. Um lar.
Estado de casada.

Cogitar que mulheres, como a generalidade das atuais, que não seguem o script-maratona prévio de tonificação da vontade – ato de FAZER-SE – se CASEM para “SER” CASADAS, é cogitar, não a que uma coisa nova envelheça, mas que uma coisa velha fique nova e a outros absurdos assim, tal como confundir INTERESSE com AMOR, ou seja, COMPORTAMENTOS com ATITUDES.

Aliás, já se confundem mesmo muitas INSANIDADES com SANIDADES.


Você quer se manter informado com as novidades da Casa da Crítica e receber nossa newsletter?

Cadastre-se agora e fique sempre atualizado!!!


Todos direitos são reservados e protegidos para Casa da Crítica, sendo permitida a reprodução dos conteúdos desde que seja citada a autoria e mantida a integralidade dos textos.

2 comentários

  1. Raphaella disse:

    Amigo, com todo respeito à sua visão de mundo (e, antes de mais nada, concordo que amor advém de processos complexos), praticamente tudo que falou sobre behaviorismo são grandes interpretações levianas sobre o behaviorismo radical (radical, remete a origem, não de radicalismo, deixando claro).
    Se vc se refere ao modelo clássico e ultrapassado do Behaviorismo de Watson, ok, posso compreender algumas críticas, mas pela sua redação, acredito que esteja falando do behaviorismo radical, aquele desenvolvido por Skinner e aprimorado até os dias atuais, com suas diversas roupagens e complexidades.

    Meus argumentos são tantos que este espaço aqui é muito limitado, mas gostaria de resumir que, primeiramente, o behaviorismo radical advém de modelos pragmáticos, logo é leviano dizer que é positivista, embora tenha base nas ciências naturais. Não é um modelo reducionista, mas é complexo, selecionista, contextual (ou seja, não se limita ao pradigma Estímulo- Resposta que vc citou).
    Leva-se consideração filogênese (questões biológicas) história de vida e cultura dos indivíduos para analisar seus Comportamentos. Ah, e comportamento não é entendido só como aquilo que é publicamente observável. Aliás, sentimentos e emoções também são comportamentos (chamamos de comportamentos privados), e portando tb são analisados com os mesmos critérios.
    Se te interessar, várias analistas do comportamento já escreveram sobre amor e relacionamentos, inclusive, eu, que sou especialista, mas não tenho publicado em periódicos ainda, infelizmente. Se isso minimizar seu interesse, há outros publicados.
    Mas, infelizmente, acredito que sua formação, embora tenha te ensinado conteúdos valiosos, legítimos e relevantes também te ensinou a olhar uma outra abordagem com o olhar enviesado e leviano. Levanto essa suspeita pois foi o que vi durante toda minha formação e ainda vejo. Não deixe essa visão te impedir de conhecer o que realmente dizem as áreas de conhecimento diferentes das suas.
    Abraço.

    • Raphaella,

      A Casa da Crítica não tem restrições à “crítica” divergente. Recebemos teu comentário como contribuição e sem ânimo adversarial qualquer.

      Pegando tuas palavras, o behaviorismo tem “diversas roupagens e complexidades”, sendo bem natural, pois, que mesmo intra-muros dos behavioristas as críticas se fermentem.

      Fica bastante à vontade para me escrever em privado contando sobre tuas pesquisas. Te confesso meu sincero interesse em olhar “uma outra abordagem”.

      Abraço

      Vicente Tolezano

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.